Conheça a incrível história do médico que foi catador de latinha


Quem olha para o doutor Cícero Pereira Batista por detrás do jaleco de médico nem imagina a história de vida desse homem. Ainda quando tinha dois anos de idade ficou órfão de pai. Uma criança negra, que além de ter de aprender a lidar com o alcoolismo de sua mãe desde muito cedo, teve que lutar contra as estatísticas. Se de um lado Cícero guerreava contra o vício do álcool de sua genitora, do outro um dos seus sete irmãos alimentava o vício de drogas ilícitas de uma das favelas do Distrito Federal.
Diante da situação precária logo cedo o jovem garoto precisou aprender a se virar. Catava latinha e restos de comida para sobreviver. Mas não foi na alimentação podre que Cícero encontrou forças para vencer na vida. A sua energia veio desde muito cedo de outro material encontrado nos lixos da cidade: livros.
Aos poucos ele foi catando a ajuda de moradores da região, aprendendo a juntar letras e sílabas, assim foi reciclando sonhos. Por volta dos dez anos pediu para sua mãe lhe matricular na escola. E foi ao som de clássicos como Bach e Mozart – vinis encontrados no lixo – que o garoto aprendeu a dançar com a vida. A música o moldou, a literatura lhe ditou o caminho, e por entre linhas tortas mas muito bem conjugadas Cícero seguiu.
Inspirado pelas histórias de grandes músicos como Beethoven, que mesmo surdo marcou a história da arte para sempre, o garoto tinha certeza de que ele poderia conseguir também. Se inscreveu para o curso profissionalizante de técnico de enfermagem, que valia como ensino médio e passou em segundo lugar. Concluiu os estudos, conseguiu um emprego na Secretaria de Saúde, mas não poderia para por aí.
Cícero sentia que precisava ir mais longe, e três anos depois prestou o vestibular para medicina em uma faculdade particular no interior de Minas Gerais e foi aprovado. Cumprindo três plantões e estudando em outra cidade o jovem passou fome de novo, chegou a dormir na rodoviária para economizar.
Devido as boas notas no Enem conseguiu uma bolsa de 100% em outra universidade de Minas Gerais, mas precisaria iniciar o curso do zero. Seis meses depois repetiu o feito, mas dessa vez a faculdade ficava no Distrito Federal, começaria tudo de novo, mas sem os custos de transporte interestadual e nem mensalidade, logo Cícero passou a comprar cada vez mais livros e vinis. Hoje ele é conhecido como doutor Cícero Pereira Batista, o homem que veio do lixo, para salvar as vidas que vivem no meio ao enxofre.
Essa história bombou no Brasil em 2014, mas exemplos como esse precisam sempre ser relembrados.