“Não existe uma identidade central, nenhuma corrente dominante no Canadá”, disse ele à The New York Times Magazine em 2015. “Existem valores partilhados – abertura, respeito, compaixão, vontade de trabalhar arduamente, de estar presentes uns para os outros, de procurar por igualdade e justiça. São essas qualidades que nos tornam o primeiro Estado pós-nacional.”
Esta visão, quando a articulou, parecia poderosamente contemporânea, conduzindo o Canadá na mesma direcção de um mundo aberto e sem fronteiras, de intercâmbio intercultural e económico em expansão. Ele não se perguntou – poucos o fizeram – como seria um “Estado pós-nacional” ou se funcionaria.
O próprio termo soa glamoroso, uma forma de existir politicamente sem as várias insanidades do nacionalismo. Na prática, contudo, não está claro como um Estado pós-nacional poderia sobreviver. O mandato do Sr. Trudeau viu o patriotismo diminuir significativamente. Apenas 34% das pessoas no país hoje dizem estar “muito orgulhosos” de serem canadenses, abaixo dos 52% em 2016.
O fracasso da visão inclusiva do Sr. Trudeau é mais do que uma questão de guerra cultural. A superpotência económica do Canadá sempre foi o seu apoio generalizado e interpartidário à imigração bem regulamentada, que tem sido vital para reabastecer a pequena e envelhecida população do país com trabalhadores qualificados. A política do seu governo desde a Covid de trazer meio milhão de imigrantes por ano, sem qualquer plano firme sobre como gerir o seu impacto na habitação e nas infra-estruturas, tem sido um desastre; a sua fé na imigração como uma força positiva pode ter sido demasiado ingénua para lhe permitir investigar os seus limites. O resultado foi que o número de canadianos que acreditam que há demasiada imigração aumentou mais de 30 pontos percentuais só nos últimos dois anos.
Por vezes, Trudeau parece incorporar a sinalização de virtude sem uma formulação de políticas eficaz, a pior característica da política progressista tal como se desenvolveu ao longo da última década. Durante seu mandato, o reconhecimento de terras tornou-se uma prática comum em todo o Canadá, enquanto as taxas de expectativa de vida dos indígenas despencaram. Devo acrescentar que a sinalização de virtude é agora, e sempre foi, uma aflição canadense, não apenas do Sr. Trudeau. O que os canadenses passaram a odiar no Sr. Trudeau, eles passaram a odiar em si mesmos, o que explica, pelo menos em parte, a intensidade do ódio.