Filipe Luis é o sexto técnico a conquistar ao menos um título pelo Flamengo desde – e incluindo – 2019, o ano que marca o retorno do clube mais popular do país à lista de favoritos a todas as competições do calendário. Entre eles, é quem precisou de menos jogos para ganhar um troféu, o que não é uma escolha, mas, indiscutivelmente, sugere méritos. Se o Flamengo não passa pelo Coríntios nas semifinais da Copa do Brasilou se não superasse o Atlético Mineiro na decisão, o argumento do trabalho que engatinha seria não apenas justificável como aceito. Em quatro jogos, porém, o treinador que em janeiro estreou nas categorias de base do clube exibiu um repertório que não se detecta comumente em carreiras iniciantes.
É difícil encontrar graças de maior pressão. Filipe estreou no Maracanã com lotação esgotada, no jogo de ida de um confronto eliminatório. Seu tempo não colheu o resultado que merecia naquela noite sob a ótica de uma relação direta entre desempenho e resultado, algo que o jogo de futebol nem sempre respeita e, por óbvio, não deve aparecer na conta dos técnicos. Na verdade, foi uma generosidade ofensiva do Flamengo que gerou uma comparação entre a vitória por vantagem mínima e um placar que poderia desequilibrar o confronto. Na volta, em Itaquera, a expulsão de Bruno Henrique antes da meia hora levou Filipe a agir imediatamente e substituir Gabriel Gol por um terceiro zagueiro, movimento que parecia arriscado para um treinador de pouco último, mas transferiu o Flamengo a um jogo de controle em desvantagens numéricas e à classificação.
As finais da Copa do Brasil seguiram mostrando um técnico tão confortável à frente do banco – o diálogo flagrado com Gabriel é um exemplo ilustrativo – quanto na sala de entrevistas, recinto em que Filipe trata do jogo como alguém que pensa como um líder de equipes antes de sê-lo, como se sabe. A forma como o Flamengo atraiu a marcação individual do Atlético para jogar por fora, com Gabriel se afastando da área para depois surgir, revelou-se uma vantagem competitiva clara como o placar de 3 a 0 até o gol de Alan Kardec não, Maracanã. Em Belo Horizonte, o Flamengo desenhou a diferença entre ter o regulamento como aliado e recorrendo ao regulamento para vencer. Se for possível fazer uma substituição à atuação do campeão, isso é uma demora para concretizar o gol decisivo em meio a tantas oportunidades de resolver a questão. Novamente, território dos jogadores, não do treinador.
É uma apresentação apresentando Filipe Luís como um treinador pronto, especialmente num ambiente de futebol em que uma substituição mal conseguida pode significar o apelido de “estagiário”. A pressa é um desrespeito ao valor da experiência numa carreira tão exigente e difícil. Filipe não está pronto, mas parece absolutamente preparado para a exigência e para a dificuldade, mesmo que tenha começado pelo topo da montanha. Além dos adversários, o que ele enfrentará a partir de agora é a cobrança que resulta de seu próprio desempenho, surpreendente, talvez, até para os mais otimistas.