Como o TDAH influencia no processo criativo?

Foi no último ano de faculdade, em meio ao desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e tomando medicamentos contra depressão que Thata Finotto (@thata_finotto) descobriu que é TDAH. Hoje em dia, anos depois, ela inclui a neurodivergencia no trabalho: ela é idealizadora e host do Tribo TDAH, primeiro podcast sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade do Brasil.
Jornalista de formação, Thata precisa unir a comunicação com a neurodivergencia. “Eu uso as coisas que o TDAH me deu ao meu favor. Eu chamo de força do desespero. Eu estou em cima do prazo, preciso entregar um projeto em pouco tempo. Uso a criatividade, o hiperfoco, a meu favor”, conta. Mas como o processo criativo que está por trás de trabalho, lazer e mesmo das relações interpessoais está ligado ao TDAH? É o que o episódio #3 do Podcast Distraídos discute. Confira abaixo.
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Uma possível resposta encontrada por cientistas para traçar essa ligação está na falha da inibição do córtex pré-frontal. Essa condição física, presente em quem é diagnosticado com o TDAH, é a responsável pela dispersão da mente, característica frequentemente encontrada em neurodivergentes. A dispersão pode tornar o indivíduo mais aberto ao novo, ou seja, a ideias e possibilidades que ainda não haviam sido pensadas.
No entanto, estudos que buscam entender essa questão apenas sugerem a maior criatividade como um diferencial para neurodivergentes. Não há, até momento, nada que permita concluir algo sobre o tema. O grande dilema que pode ficar para a vida de quem tem TDAH é conviver em uma sociedade neurotípica, sem deixar que essas diferenças atinjam o neurodivergente pessoal e profissionalmente.
O TDAH atrapalha o processo criativo?
Não é o que aconteceu com Thata. “Eu tento não ficar tentando fazer um projeto do jeito que os neurotípicos esperam que eu vá fazer e apresentar. As etapas que eles fariam não é a ordem lógica que eu faria. Eu parei de lutar contra isso. Eu mudei umas quatro, cinco vezes de área”, relata a jornalista.
Por outro lado, como Thata também ressalta, a co-host do Distraídos, TDAH e autista, Alpin Montenegro (@blackautie), entende que as diferenças que distanciam neurotípico e neurodivergente do ponto de vista do processo criativo pode ser uma vantagem. “Quando acontece de nós, neurodivergentes, termos dupla-excepcionalidade, tripla, altas habilidades e superdotação na área de atuação, eu acredito que isso pode ajudar criativamente. No caso, se a pessoa tem superdotação e foi estimulada para aquilo”, sugere Alpin.
Como o TDAH ajuda na hora de trabalhar?
Após trabalhar anos em grandes empresas de comunicação e descobrir a condição do TDAH, o co-host do Distraídos e jornalista, Erick Mota (@erickmotaporai), olha para trás e vê como o transtorno neurológico já deixava marcas no processo criativo. “Trabalhei um tempo como diretor de TV. Às vezes eu passava a manhã resolvendo pequenos problemas, aos quais eu não precisava estar debruçado. Quando eu via, faltava meia hora para o programa começar e não tinha nenhuma lauda escrita [roteiro de um programa televisivo]. Quando eu me sentava, eu fazia 1h30 de programa em 30 minutos. Acho que isso exige um nível de criatividade bastante elevado”. É o que ele chama informalmente de alta velocidade mental e atribui à neurodivergencia.
Para conferir o bate-papo do Podcast Distraídos, os episódios estão disponíveis no Spotify e no Anchor. O projeto é uma iniciativa independente e precisa de apoio financeiro para continuar. Ajude por meio do apoia.se/podcastdistraidos e faça parte do Hiperfocados, grupo no Telegram com neurodivergentes e especialistas que conversam sobre o assunto.