“Não é 2030 ou 2050. É agora”, diz líder indígena brasileira em pronunciamento na COP26

A líder indígena Txai Suruí fez um pronunciamento nesta segunda-feira (1) na 26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP26) em que destacou a urgência de se discutir ações para frear as mudanças climáticas em curso no planeta. “Não é 2030 ou 2050. É agora”, disse. “Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo e os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo”, completou a indígena.
Txai Suruí é filha do líder indígena de Rondônia Almir Saruí, uma das lideranças indígenas mais importantes do Brasil. Em 2013, ele ganhou o título de “Herói da Floresta” das Nações Unidas, pelo seu trabalho na conservação da Terra Indígena Sete de Setembro, na divisa entre Rondônia e Mato Grosso.
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Em seu pronunciamento na COP26, Txai Suruí destacou também a necessidade de os povos indígenas serem ouvidos na discussão sobre as mudanças climáticas. “Eu só tenho 24 anos, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica”, afirmou. “Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui”, completou a indígena.
Mais de 40 indígenas brasileiros estão na COP26. Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), esta é a maior delegação de lideranças indígenas brasileiras da história da Conferência do Clima.
A delegação de líderes indígenas brasileiros na COP26 coloca ainda mais pressão sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O presidente não compareceu ao evento, apesar de estar na Europa no início desta semana. Os povos indígenas afirmam que pretendem denunciar as ações do governo contra o meio ambiente e os povos tradicionais.
“A Apib e suas organizações indígenas denunciam de forma constante as invasões aos territórios, a contaminação de rios e nascentes por agrotóxicos e mercúrio, o desmatamento desenfreado da Floresta Amazônica, do Cerrado e do Pantanal. Segundo a organização, apesar desse cenário, os fundos econômicos continuam apoiando financeiramente a ganância desenfreada que destrói o planeta”, diz a Apib.
Mesmo sendo responsável pela proteção da maior parte do patrimônio florestal global e, consequentemente, da capacidade de armazenar mais de 293 gigatoneladas de carbono, um terço das terras indígenas e comunitárias de 64 países estão sob ameaça devido à ausência de demarcação.
Carta dos povos indígenas a líderes da COP26
Na semana passada, a Aib divulgou uma mensagem aos líderes mundiais, gestores de políticas públicas, empresários e organizações da sociedade civil reunidos na COP 26. A entidade defendeu a demarcação de terras indígenas como forma de diminuir o ritmo das mudanças climáticas.
“Terra Indígena é garantia de futuro para toda a humanidade. Nossa relação com o território não é de propriedade, exploração, expropriação ou apropriação, mas de respeito e manejo de um bem comum, que serve a toda humanidade como pólos de contenção das dinâmicas extrativistas que provocam a crise climática. Até hoje – e isso não dizemos nós, mas a ONU e diversos institutos de pesquisa com a reputação mais elevada que a ciência ocidental pode demandar -, somos nós, Povos Indígenas, os maiores responsáveis pela preservação dos biomas do planeta”, diz a mensagem.
“Para as autoridades e especialistas que se reúnem agora em Glasgow, pedimos que tomem ações reais para a proteção dos nossos territórios e que trabalhem incansavelmente para um sistema de produção mais justo e menos poluente para todos e todas sociedades”, diz ainda a Apib.
Também na semana passada, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira divulgou uma declaração frente à crise climática. Os povos indígenas afirmam que “o governo atual é letal com políticas anti-ambientais, anti-climáticas e anti-indígenas. Nossos territórios, que são nossos de direito, estão sendo invadidos por garimpeiros e madeireiros; aldeias foram cercadas por fazendas de gado e soja; os rios são contaminados por agrotóxicos e mercúrio; a Floresta Amazônica está em chamas virando cinza; e governos e os fundos econômicos continuam apoiando financeiramente essa ganância desenfreada, a economia da destruição que mata e que destrói a vida e o planeta”.
As lideranças também chamam a atenção “para a necessidade de construir uma justiça climática inclusiva e participativa a partir das nossas cosmovisões, das salvaguardas e dos nossos territórios”.
“É urgente e essencial fortalecer fundos indígenas e mecanismos financeiros que dialoguem com a realidade indígena, como o Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podaali. Tais recursos devem promover a implementação dos planos de vida dos povos indígenas e as políticas públicas socioambientais. No entanto, nenhum desses esforços surtirá efeito até que todas as terras indígenas sejam demarcadas, que 80% do bioma Amazônico esteja protegido, e que todas as partes tenham metas ambiciosas e que sejam alcançadas. Ou seja, é necessário mudar todo o sistema político e econômico atual”, diz ainda o documento.