PRECISA MEDICAMENTOS É ALVO DE OPERAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL

A Precisa Medicamentos foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na manhã desta sexta-feira (17). Os agentes cumpriram mandatos de busca e apreensão nas sedes da empresa em Barueri e Itapevi, ambos em São Paulo. A ação começou às 6 horas da manhã. A operação é cumprimento de solicitação realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia.
“A operação destina-se à busca e apreensão de informações relativas ao contrato entre a Precisa Medicamentos e a Empresa Indiana Bharat Biotech, assim como todos os documentos relacionados a este contrato”, informou em nota a comissão. “A CPI buscou de todas as formas obtenção dessas informações junto à Empresa e ao Ministério da Saúde, não obtendo êxito. Devido a isso, se fez necessária a utilização deste instrumento judicial”, concluiu.
A compra da vacina indiana Covaxin entrou na mira da CPI da Pandemia no Senado e do Ministério Público Federal. No dia 26 de junho, o deputado federal Luis Cláudio Miranda (DEM-DF) confirmou em seu depoimento na CPI que teria avisado o presidente Jair Bolsonaro, em março, sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina.
Ainda segundo ele, o presidente afirmou estar ciente do envolvimento de um deputado da base do governo neste suposto esquema e que tomaria a medida cabível: reportar a denúncia diretamente para o delegado-geral da Polícia Federal, fato que não ocorreu.
A Covaxin foi a vacina mais cara negociada pelo governo federal, segundo o Tribunal de Contas da União. Cada dose custa R$ 80,70. Isso é quatro vezes mais do valor pago pela dose da vacina AstraZenica, por exemplo.
Mas vamos entender melhor a cronologia do caso da compra da Covaxin para identificar as possíveis irregularidades e quem pode ter cometido crimes neste caso.
Em 6 de janeiro deste ano o governo federal editou uma medida provisória que permite a compra emergencial de vacinas contra a Covid. A medida provisória tem efeito de lei e entra em vigor assim que é publicada, mas só vale por até 120 dias. Se não for aprovada no Congresso dentro desse período, ela perde validade.
A medida provisória do governo não previa a liberação para compra da Covaxin, já que ela ainda não havia sido aprovada pela Anvisa. No dia 18 de janeiro, o Ministério da Saúde enviou um ofício à empresa precisa medicamentos, no qual afirmava interesse em iniciar negociação para comprar a Covaxin.
No dia 3 de fevereiro, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), apresentou emenda para flexibilizar a MP sobre compra de vacinas, facilitando a aquisição da Covaxin. nNo dia seguinte, o deputado ameaçou “enquadrar” a Anvisa se ela não eliminasse exigências para aprovar vacinas contra a Covid.
No dia 22 de fevereiro, o Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde emitiu nota de empenho de R$ 1,614 bilhão em favor da Precisa Medicamentos para pagar 20 milhões de doses da Covaxin.
Em 23 de fevereiro, a Câmara aprovou a MP das vacinas, com a emenda proposta por Ricardo Barros. a MP também foi aprovada no Senado e foi sancionada pelo presidente Bolsonaro em 10 de março.
Mas antes mesmo da MP ser aprovada no Senado, no dia 25 de fevereiro, o Ministério da Saúde assinou contrato para aquisição de 20 milhões de doses da vacina Covaxin. No dia 6 de março, o Ministério da Saúde tratou com a Precisa Medicamentos sobre a aquisição de 50 milhões de doses extras da Covaxin.
No dia 19 de março, Luís Ricardo Miranda se recusou a assinar uma invoce enviada pela fabricante da Covaxin, com sede em Singapura, no valor de 45 milhões de dólares para a entrega de 300 mil doses do imunizante, com pagamento 100% adiantado. Ele contou à CPI a pandemia que foi pressionado por superiores no Ministério da Saúde para acelerar a importação da vacina.
No dia 20 de março, os irmãos Miranda apresentaram ao presidente Bolsonaro suspeitas sobre irregularidades no contrato da Covaxin. Eles também mostraram a Bolsonaro um documento que comprovaria um pedido de pagamento por fora do contrato para importação de três lotes com doses perto da data de vencimento.
No dia 31 de março, a Anvisa tomou a decisão de não autorizar a importação da Covaxin. O argumento era de que faltavam documentos que comprovassem a segurança da vacina.
Mas e o que Bolsonaro tem a ver com isso tudo?
Ao ter conhecimento e deixar de encaminhar a denúncia de um suposto esquema de corrupção bilionário envolvendo a compra da vacina Covaxin, Jair Bolsonaro teria cometido o crime de prevaricação, que segundo o art. 319 do Código Penal consiste em: “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.
Após a acusação, os senadores Randolfe Rodrigues (REDE-AP), Fabiano Contrato (REDE-ES) e Jorge Kajuru (PODEMOS-GO) apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) a notícia-crime que acusa o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) de prevaricação.
A notícia-crime ainda ressalta que isso pode caracterizar improbidade administrativa, que no caso do presidente da República, é tipificada como um crime de responsabilidade e deve ser apurado num eventual processo de impeachment.
Kajuru, Randolfe e Contarato também apontam que a compra das vacinas cCovaxin levanta suspeitas de superfaturamento, falta de critérios técnicos e intermediação por empresa investigada por outras fraudes.
Os senadores pedem a admissão da notícia-crime e a intimação da Procuradoria-Geral da República (PGR) para oferecer denúncia contra Jair Bolsonaro. Além disso, solicitam intimação do próprio presidente e da Polícia Federal para esclarecimentos.
Nos bastidores, o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse que que não cabe mover ação por prevaricação contra o presidente da República. Para ele, só cabe à PGR investigar e denunciar o presidente da República por crime comum. Neste caso, Bolsonaro poderia ser denunciado por crime de responsabilidade, que é investigado pela Câmara dos Deputados em um processo de impeachment.
Em nota pública, o deputado Ricardo Barros afirmou nunca ter participado de qualquer negociação em relação à compra de vacinas. Já Bolsonaro confirmou ter se reunido com os irmãos Miranda em março de 2021, mas afirma que não houve qualquer comunicação de corrupção.