Mesmo com supercoligação, fracasso marcou trajetória eleitoral do PSDB em 2018

Em 2018, o candidato Geraldo Alckmin atingiu apenas 4,76% dos votos válidos e terminou a disputa presidencial em quarto lugar, alcançando o pior desempenho da história do PSDB em eleições majoritárias. Mesmo com a maior coligação da eleição e com quase metade do horário eleitoral, o ex-governador de São Paulo sofreu a segunda derrota da chamada “terceira via”, que começou a se estruturar após as manifestações de 2013 e o crescimento do antipetismo e do “voto de protesto”. Marina Silva (então no PSB) foi a primeira representante da terceira via derrotada nas eleições de 2014, após ser atacada sistematicamente no primeiro turno das eleições pelo marketing da campanha de reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Em sua segunda tentativa para se eleger presidente do Brasil, Alckmin investiu no que o cientista político da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Marco Rossi, aponta como essencial para uma campanha política: dinheiro, propaganda e influência. “Quem tem o maior número de alianças é quem tem mais espaço para falar sobre suas propostas e sua forma de fazer política”, explica.

- Leia mais: Eleições 2022: Como chegamos até aqui?
- Leia ainda: Dilma Rousseff e Marina Silva: Como o PT matou a terceira via em 2014
A primeira disputa de Alckmin à presidência ocorreu em 2006, quando o tucano se desincompatibilizou do governo paulista e foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, por 60,83% (58. 295.042 milhões) dos votos para o petista contra 39,17% (37.543.178 milhões). Em 2018, Alckmin passou por dificuldades dentro e fora do PSDB para estruturar sua segunda candidatura à presidência.
O primeiro obstáculo foi lidar com o forte apoio do partido à articulação de seu afilhado político, João Doria, para desidratar o candidato de Alckmin ao governo de São Paulo para concorrer como representante do PSDB. O nome indicado por Alckmin para disputar sua sucessão no governo paulista era o de seu vice, Márcio França (PSB). Porém, com apoio de seu vice na prefeitura de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), João Doria, conseguiu descompatibilizar-se da prefeitura da capital paulista e unir as principais lideranças do partido para viabilizar sua candidatura ao governo de São Paulo e combater o candidato do PSB, Márcio França.
Clique aqui para não perder nenhuma matéria da série “Eleições 2022: como chegamos até aqui” e receba as notícias diretamente no Whatsapp
O racha interno começou em maio, quando o senador Aécio Neves (PSDB) foi afastado de seu mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após ter um de seus áudios vazados, no qual pedia propina de R$2 milhões para o empresário da JBS, Joesley Batista. Além de perder o mandato, o senador mineiro também se afastou da presidência do PSDB, tornando Tasso Jereissati (CE) o presidente interino enquanto as eleições para um novo líder do partido não ocorriam.
Em novembro de 2017, o senador Jereissati e o governador de Goiás, Marconi Perillo, desistiram de disputar o comando do PSDB e indicaram ao cargo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O tucano aceitou a liderança do partido em novembro de 2017, mesmo às vésperas do início da campanha presidencial, pois o PSDB necessitava de um articulador político experiente à frente do partido para manter alianças políticas importantes depois do prejuízo causado à imagem pública dos tucanos pelo senador Aécio Neves (PSDB).
Alckmin passou grande parte do ano viajando pelo menos uma vez por semana para Brasília, conciliando as atividades da liderança do partido com a atividade de costurar e formar palanques para o PSDB nos estados da federação.

- Leia também: Como Bolsonaro perdeu aliados da base ideológica em quatro anos
- Veja também: Militares e Bolsonaro: cargos no governo, intrigas e imagem das Forças Armadas na berlinda
- Saiba mais: Bolsonarismo e MBL: casamento curto, mas com fortes laços ideológicos
- Leia ainda: Eleito com apoio de 16 governadores, Bolsonaro viu debandada de apoiadores ao longo do mandato
- Leia: Governo Bolsonaro é marcado por escândalos de corrupção desde o início do mandato; relembre
- Leia também: Como o PSL virou comunista para Bolsonaro
- Veja ainda: Bolsonaro: do anti-establishment à tchutchuca do Centrão
- Saiba mais: Como Bolsonaro traiu as promessas e se corrompeu em três anos
Candidatura de Alckmin fracassa na reta final do primeiro turno
Nas duas semanas anteriores ao primeiro turno, Alckmin enfrentou três problemas que indicaram a probabilidade de fracasso de sua candidatura: o abandono de seus aliados no PSDB, um marketing ineficiente mesmo com o maior tempo de propaganda eleitoral e a estagnação nas pesquisas de intenção de voto. Suas agendas públicas mobilizaram poucos eleitores e apoiadores políticos e, além disso, após a facada contra o então candidato Jair Bolsonaro em 6 de setembro, Alckmin e os demais candidatos enfraqueceram suas campanhas ao poupar críticas ao candidato mais bem colocado nas pesquisas, que estava hospitalizado.
Como a ofensiva a Bolsonaro retornou apenas dez dias depois, interlocutores de Alckmin avaliam que a campanha do tucano foi prejudicada, especialmente pelo fato de que o PT se absteve de criticar Bolsonaro. Além disso, o ex-governador de São Paulo perdeu grande parte dos votos do empresariado ao não apresentar um direcionamento econômico sólido. Enquanto Bolsonaro utilizou a figura do ministro da Economia Paulo Guedes para sinalizar seu compromisso com uma economia mais liberal, voltada para a privatização de empresas estatais e a captação de investimentos externos, Alckmin não mostrou um plano econômico convincente.
Em relação à campanha, o marketing de Alckmin falhou ao focar seus esforços na propaganda eleitoral pela televisão. Mesmo com quase metade do tempo total de TV, o tucano estagnou seu índice de intenção de votos em 9% desde fins de agosto, até chegar a 7% no sábado antes da votação. Nas urnas, seu resultado foi pior, com apenas 4,76% dos votos válidos.
O cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rodrigo Gonzalez, explica que o erro da campanha de Alckmin foi ignorar a relevância que o WhatsApp e o Facebook adquiriram na captação de eleitores em 2018. “Do ponto de vista de transmissão de mensagem política, é muito mais efetivo o uso de um veículo como WhatsApp, Tik Tok e Youtube, com mensagens curtas que tenham algum tipo de imagem de fundo para animar, do que propriamente um formato gravado, que tende a aumentar a dificuldade de atenção a menos que seja dirigido para um público diretamente interessado naquilo”, explica Gonzalez.

- Leia também: Lula e programas sociais: o pobre andando de avião
- Saiba mais: Mensalão: o primeiro escândalo de corrupção no governo Lula
- Veja: Lula e a marolinha de 2008: estratégia controversa para lidar com a crise econômica mundial
- Veja também: Política externa de Lula: o Brasil na mesa com Obama
- Veja ainda: Escolha de Dilma para suceder Lula custou caro para o ex-presidente e para o PT
- Leia ainda: Culpado ou perseguido político: a história de Lula e a Lava Jato
- Saiba mais: Lula com chuchu: de rivais a aliados, Alckmin e ex-presidente formam chapa para eleição
- Veja: Nada abala o Lulismo?
Outro aspecto que desgastou a candidatura de Alckmin foi a imagem pública de seu partido, o PSDB. Com as investigações da operação Lava Jato, outros nomes do partido, como o senador Aécio Neves e José Serra, tornaram-se réus por corrupção e foram alvo de operações.
Desde 2016, o PSDB participou do governo de Michel Temer (MDB), um dos mais impopulares da história. O próprio Alckmin foi acusado de participar da “máfia da merenda”, esquema de superfaturamento no fornecimento de merendas escolares que ocorreu durante a gestão do tucano e foi citado por opositores em debates.
Embora Alckmin não tenha se envolvido na indicação de ministros ao governo Temer e não tenha defendido Temer nas duas denúncias de corrupção contra ele na Lava Jato, o então presidente do PSDB precisou responder pela decisão partidária várias vezes ao longo dos meses antecedentes ao primeiro turno das eleições.
Por isso, o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Flávio Testa, afirma que “o erro de Alckmin foram suas atitudes dentro e fora do partido, que marcaram sua candidatura como “mais do mesmo” na visão dos eleitores”. Ligado aos escândalos da gestão Temer e envolvido nas denúncias da operação Lava Jato, o PSDB teria sucumbiu ao personalismo dominante nas eleições de 2018, marcado pela polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL).