O funcionamento do Telegram no Brasil é alvo de polêmicas desde sua popularização em 2015. Entenda como o app pode ameaçar as eleições deste ano.
O Telegram é um aplicativo russo de mensageria privada, que se popularizou no Brasil e no mundo desde 2015 a cada instabilidade no WhatsApp, Facebook e Instagram.
William Hoock
Entre 2019 e 2022, o Telegram aumentou sua presença de 13% para 60% nos smartphones brasileiros. Embora o WhatsApp seja mais popular, o engajamento diário do Telegram manteve-se estável em 25%.
Christian Wiediger
Jonas Lee
Embora tenha abrangência e influência nacionais, o Telegram foi a única plataforma de mensagens privadas que não respondeu às tentativas de contato da Justiça brasileira desde o início do ano.
Em fevereiro, Moraes determinou que o Telegram bloqueasse perfis acusados de disseminar fake news. Porém, o STF não conseguiu intimar a empresa, já que ela não tinha um representante legal no Brasil.
ASCOM STF/Divulgação
Em março, o TSE tentou localizar os representantes da empresa através de um escritório de advocacia no Brasil, enviando um ofício que permaneceu sem resposta do fundador da plataforma, Pavel Durov.
ASCOM TSE/Divulgação
O auge da tensão entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Telegram ocorreu em 18 de março, quando o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão do app no Brasil.
ASCOM STF/Divulgação
No dia seguinte à determinação judicial, Durov afirmou que não viu as determinações judiciais brasileiras a tempo da suspensão do app devido a problemas com os endereços de e-mails corporativos.
Andy Makely
Porém, a declaração do fundador do Telegram não se sustenta de maneira concreta. O TSE tentou contatar Durov para debater estratégias de combate à fake news nas eleições deste ano, mas nunca obteve resposta.
Jeremy Bezanger
Embora a plataforma tenha bloqueado perfis ligados ao blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, conforme estipulado por determinação judicial, o Telegram não forneceu informações solicitadas sobre monetização e doações financeiras aos canais.
Geraldo Magela/Agência Senado
Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Após a determinação de suspensão, o Telegram indicou Alan Campos Thomaz como representante legal no Brasil. A empresa também se comprometeu a cumprir as demais exigências do Judiciário brasileiro.
Rami Al-zayat
As demais exigências incluem o estabelecimento de medidas e sanções para combater a disseminação de fake news por usuários do app.
Jorge Franganillo
Além disso, Moraes determinou a imediata exclusão das notícias falsas divulgadas no canal do presidente Jair Bolsonaro, que tem mais de um milhão de participantes e é um dos maiores do mundo.
Agência Brasil
O conteúdo dessas mensagens foi preservado e enviado à Polícia Federal, responsável por investigar a disseminação de fake news sobre ministros do STF. Na Suprema Corte, Moraes é o relator deste inquérito.
ASCOM STF/Divulgação
Os canais do Telegram são grupos temáticos exclusivos do aplicativo. Eles possuem um número ilimitado de participantes e com conteúdo controlado por um ou mais administradores.
Adem Ay
A maioria dos usuários do Telegram no Brasil são homens (63%), das classes A e B (70%) e entre 16 a 49 anos (63%). Esses dados mostram a prevalência do app entre pessoas privilegiadas socialmente.
Para a vice-presidente da Comissão de Proteção de Dados e Privacidade da OAB-RJ, Samara Castro, é pouco provável que a regulação do Telegram prejudique a campanha de Jair Bolsonaro, que já tem uma rede autônoma de grupos desde 2018.
Jonas Lee
Samara Castro/Arquivo Pessoal
Samara Castro, advogada eleitoral
Para a advogada eleitoral, a principal ameaça que o Telegram traz para as eleições deste ano são os disparos em massa.
Dimitri Karastelev
Christian Wiediger
Samara Castro, advogada eleitoral
Embora o uso do Telegram esteja liberado no Brasil, Samara alerta que é preciso investir no diálogo sobre a influência das redes sociais, para que o eleitor possa votar sem manipulações externas.
Rob Hampson
Shyam Mishra
Samara Castro, advogada eleitoral
Letícia Fortes
Samara Castro, vice-presidente da Comissão de Proteção de Dados e Privacidade da OAB-RJ Pesquisa Opinion Box sobre o uso de redes sociais no Brasil (2022)