Cerca de 2.500 policiais e soldados brasileiros lançaram uma operação massiva contra uma gangue de traficantes de drogas no Rio de Janeiro na terça-feira, prendendo 81 suspeitos e provocando tiroteios que deixaram pelo menos 60 suspeitos e quatro policiais mortos, disseram autoridades.
A operação incluiu policiais em helicópteros e veículos blindados e teve como alvo o notório Comando Vermelho nas extensas favelas de baixa renda do Complexo do Alemão e da Penha, disse a polícia.
A operação policial foi uma das mais violentas da história recente do Brasil, com organizações de direitos humanos pedindo investigações sobre as mortes.
O governador do estado do Rio, Claudio Castro, disse em um vídeo postado no X que 60 suspeitos de crimes foram “neutralizados” durante a operação massiva que ele chamou de a maior operação desse tipo na história da cidade. Cerca de 81 suspeitos foram presos, enquanto 93 rifles e mais de meia tonelada de drogas foram apreendidos, disse o governo estadual, acrescentando que os mortos “resistiram à ação policial”.
A Polícia Civil do Rio disse no X que quatro policiais morreram na operação de terça-feira. “Os ataques covardes de criminosos contra nossos agentes não ficarão impunes”, afirmou.

Um jornalista da Associated Press também viu os corpos de pelo menos dois policiais entre 10 corpos levados ao Hospital Getulio Vargas, na Penha.
A polícia ocorreu antes do Rio sediar a cúpula global C40 de prefeitos que combatem as mudanças climáticas na próxima semana. A programação faz parte dos preparativos para a COP30, a cúpula climática das Nações Unidas realizada 10 dias depois, em novembro, na cidade amazônica de Belém.
Raid teve como alvo a gangue do Comando Vermelho
O órgão de direitos humanos das Nações Unidas disse estar “horrorizado” com a operação policial mortal, apelou a investigações eficazes e lembrou às autoridades as suas obrigações ao abrigo do direito internacional dos direitos humanos.
César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil, classificou os acontecimentos de terça-feira como “uma enorme tragédia” e um “desastre”.
“O Ministério Público deve abrir as suas próprias investigações e esclarecer as circunstâncias de cada morte”, disse Muñoz num comunicado.

Imagens nas redes sociais mostraram fogo e fumaça subindo das duas favelas enquanto soavam tiros. A Secretaria de Educação da cidade disse que 46 escolas nos dois bairros foram fechadas, e a vizinha Universidade Federal do Rio de Janeiro cancelou as aulas noturnas e disse às pessoas no campus que procurassem abrigo.
Supostos membros de gangues bloquearam estradas no norte e sudeste do Rio em resposta à operação, informou a mídia local. Pelo menos 70 ônibus foram requisitados para serem usados nos bloqueios, causando danos significativos, disse a organização rodoviária da cidade, Rio Onibus.
A operação de terça-feira ocorreu após um ano de investigação sobre o grupo criminoso, disse a polícia.
Vice-presidente Geraldo Alckmin e vários ministros reuniram-se em resposta à operação na tarde de terça-feira. O chefe da Casa Civil, Rui Costa, solicitou uma reunião de emergência no Rio na quarta-feira, com a presença dele e do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Castro, do Partido Liberal, de oposição conservadora, disse que o governo federal deveria fornecer mais apoio ao combate ao crime – um golpe contra a administração do presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva.
Gleisi Hoffmann, representante do governo Lula com o parlamento, concordou que era necessária uma ação coordenada, mas apontou a recente repressão à lavagem de dinheiro como um exemplo da ação do governo federal contra o crime organizado.
Emergindo das prisões do Rio, a gangue criminosa Comando Vermelho expandiu seu controle nas favelas nos últimos anos.
O Rio tem sido palco de operações policiais letais há décadas. Em março de 2005, cerca de 29 pessoas foram mortas na Baixada Fluminense, no Rio, enquanto em maio de 2021, 28 foram mortas na favela do Jacarezinho.
‘Estes são números de guerra’
Embora a operação policial de terça-feira tenha sido semelhante às anteriores, sua escala não tem precedentes, disse Luis Flavio Sapori, sociólogo e especialista em segurança pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
“O que há de diferente na operação de hoje é a magnitude das vítimas. Estes são números de guerra”, disse ele.
Ele argumentou que estes tipos de operações são ineficientes porque não tendem a capturar os mentores, mas sim a atingir subordinados que podem mais tarde ser substituídos.
Esta não é uma política de segurança pública. É uma política de extermínio, que faz do cotidiano dos negros e pobres uma roleta russa– Instituto Marielle Franco
“Não basta entrar, trocar tiros e sair. Falta estratégia na política de segurança pública do Rio de Janeiro”, disse Sapori. “Alguns membros de escalão inferior destas facções são mortos, mas esses indivíduos são rapidamente substituídos por outros.”
A operação também foi criticada pelo Instituto Marielle Franco, organização sem fins lucrativos fundada pela família da vereadora assassinada em 2018, para dar continuidade ao seu legado de luta pelos direitos das pessoas que vivem em favelas.
“Esta não é uma política de segurança pública. É uma política de extermínio, que faz da vida quotidiana dos negros e dos pobres uma roleta russa”, afirmou num comunicado.








