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A reacção interna tépida e partidária à aparente agressão sexual sofrida na terça-feira pela presidente mexicana Claudia Sheinbaum revela como a violência de género se tornou normalizada no país, segundo especialistas.
Sheinbaum disse na quinta-feira que enviou uma carta ao procurador-geral da Cidade do México na quarta-feira descrevendo uma queixa criminal contra o homem, identificado como Uriel Rivera Martinez, 33.
Um vídeo de celular amplamente divulgado mostrou o homem tateando e tentando beijar Sheinbaum enquanto ela caminhava do Palácio Nacional até o Ministério da Educação.
No Canadá, um incidente como este provavelmente seria investigado como agressão sexual porque envolve agarramento e carícias sexuais indesejadas.
Embora o incidente tenha chegado às manchetes internacionais, acabou sendo uma notícia secundária no mercado interno. Foi em grande parte enquadrado como um fracasso da segurança de Sheinbaum, que permitiu a um homem tocar no presidente dias depois do assassinato de Carlos Manzo, um popular presidente da Câmara no estado agrícola de Michoacán.
“Isso mostra o quanto normalizamos a violência de gênero neste país e quemesmo [when] temos fortes evidências de assédio nas ruas e assédio contra o presidente do país, minimizamos seus efeitos”, disse Amneris Chaparro Martínez, diretor e pesquisador do Centro de Pesquisa e Estudos de Gênero da Universidade Nacional Autônoma do México.
“Isso mostra a atitude que tendemos a ter neste país em relação às questões relacionadas às mulheres.”

Durante a conferência de imprensa de Sheinbaum na manhã de quinta-feira, Minerva Citlalli Hernández Mora, Secretária para a Mulher, disse que havia atualmente mais de 25.000 investigações abertas envolvendo violência sexual contra mulheres.
Sheinbaum e Hernández Mora também anunciaram que iriam lançar um plano no dia 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, para fortalecer a resposta institucional a este tipo de violência em todo o país.
“O que queremos legislar… é que as mulheres tenham realmente um espaço para fazer reclamações que seja ágil, rápido e permita investigações reais que levarão a penas de prisão”, disse Sheinbaum.
‘Luz ao longo do caminho’
Ao ver o vídeo do incidente, Chaparro Martínez disse que percebeu que nem mesmo a presidente do país estava a salvo de assédio em espaços públicos por ser mulher.
“Ninguém está perguntando: ‘Por que os homens estão assediando as mulheres em 2025?’ Dizem que esse homem estava drogado ou bêbado, mas isso não é desculpa”, disse ela.
Relatórios locais afirmaram que ele estava bêbado durante o incidente.

Estefania Vela Barba, diretora executiva da Intersecta, uma organização feminista de direitos humanos com sede na Cidade do México, disse que a violência de género inerente ao incidente contra Sheinbaum também foi distorcida e diluída pela polarização política no país.
Comentários circularam nas redes sociais questionando se o evento foi encenado para mudar de canal sobre a crise política imediata desencadeada pelo assassinato de Manzo, que viu uma explosão de protestos violentos em seu estado natal, Michoacan.
“Nossa, nem se estiver em vídeo e acontecer com o presidente você vai acreditar”, disse Vela Barba.
“Para mim, o que vi é o que milhões de mulheres vivem diariamente.”
Vela Barba disse que ficou animada com a forma como Sheinbaum imediatamente confrontou o incidente, de frente, durante sua coletiva de imprensa na manhã de quarta-feira, denunciando o que aconteceu com ela e dizendo que buscaria responsabilização por meio do sistema de justiça.
“Foi muito importante para ela articular este incidente para dar visibilidade, que isto é um problema”, disse Vela Barba.
“Ver a própria presidente quem está nomeando isso nos ilumina o caminho. Achei fortalecedor que a presidente tenha condenado esse ato.”







