Uma operação policial que levou a confrontos violentos com uma gangue no Rio de Janeiro, Brasil, resultou em pelo menos 119 mortes, disseram defensores públicos na quarta-feira, um dia depois de o governo ordenar a operação.
De acordo com a Reuters, a polícia estadual disse que as operações foram exaustivamente planejadas por mais de dois meses e tinham como objetivo empurrar suspeitos de gangues que operam na favela do Complexo da Penha para áreas próximas nas encostas, onde uma unidade de operações especiais aguardava para emboscar os supostos agressores.
A polícia do Rio confirmou 119 mortes até agora, incluindo 115 suspeitos e quatro policiais, quase o dobro do número divulgado pelas autoridades no dia anterior. Na terça-feira, a força disse que cerca de 2.500 policiais e soldados mataram 60 supostos membros de gangues.
Polícia observa carro queimado usado por supostos traficantes de drogas como barreira durante operação policial na favela do Complexo do Alemão, onde atua a organização criminosa “Comando Vermelho” no Rio de Janeiro, terça-feira, 28 de outubro de 2025.
Foto AP / Silvia Izquierdo
O porta-voz da polícia, Felipe Curi, disse que corpos adicionais foram recuperados de uma floresta próxima aos bairros invadidos, alegando que os moradores haviam removido equipamentos de camuflagem e roupas usadas pelos falecidos suspeitos de gangue encontrados na floresta.
Suas supostas ações serão investigadas como adulteração de provas, acrescentou.
Na quarta-feira, no bairro da Penha, área de baixa renda localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, moradores cercaram os corpos dos mortos, que haviam sido recolhidos em caminhões e expostos em uma praça central.
Eles gritaram “massacre” e “justiça” antes que equipes forenses viessem resgatar os corpos, informou a Associated Press.
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Autoridades do estado do Rio dizem que o uso de força extrema e a natureza violenta da operação não foram uma surpresa para as autoridades.
“A elevada letalidade da operação era esperada, mas não desejada”, disse Victor Santos, chefe da segurança do estado do Rio, durante entrevista coletiva.
O governo do estado informou que foram apreendidos 93 fuzis e mais de meia tonelada de drogas.
A operação provocou trocas de tiros entre membros de gangues e a polícia, levando ao caos generalizado, fechamento de escolas, incêndios em carros e bloqueios de estradas.
Polícia realiza operação contra supostos traficantes de drogas na favela do Complexo do Alemão, onde atua a organização criminosa ‘Comando Vermelho’ no Rio de Janeiro, em 28 de outubro de 2025.
Foto AP / Silvia Izquierdo
Na manhã de quarta-feira, o ativista local Raull Santiago disse que ele e uma equipe encontraram 15 corpos antes do nascer do sol.
“Vimos pessoas executadas com tiros nas costas, tiros na cabeça, facadas, pessoas amarradas. Este nível de brutalidade, o ódio se espalhando – não há outra maneira de descrever isso, exceto como um massacre”, disse ele à AP.
Entretanto, funcionários do Estado argumentam que as suas forças estão a travar uma guerra de “narcoterrorismo” e que aqueles que foram mortos resistiam à prisão.
O Rio conhece bem as operações policiais mortais: em maio de 2021, 28 pessoas foram mortas na favela do Jacarezinho e, em 2005, 29 pessoas foram mortas na região da Baixada Fluminense, no Rio.
A brutalidade da operação de terça-feira suscitou uma condenação generalizada por parte das agências de direitos humanos, incluindo a ONU, que apelou a uma investigação sobre o elevado número de mortes relatadas e lembrou às autoridades as suas “obrigações ao abrigo do direito internacional dos direitos humanos”.
“Após a operação policial mais mortífera da história do Rio de Janeiro, pedimos uma reforma abrangente e eficaz dos métodos de policiamento”, escreveu a organização no X na quarta-feira.
“As violações não podem ficar impunes. Processos adequados de responsabilização devem conduzir à verdade e à justiça para evitar mais impunidade e violência”, continua a declaração.
As gangues criminosas fortaleceram sua presença na sociedade brasileira nos últimos anos, segundo a AP, inclusive na floresta amazônica.
Filipe dos Anjos, secretário-geral da FAFERJ, organização pelos direitos das favelas, disse à agência de notícias que esse tipo de operação policial não resolve o problema, pois os mortos podem ser facilmente substituídos.
“Dentro de cerca de 30 dias o crime organizado já estará reorganizado no território, fazendo o que sempre faz: vender drogas, roubar cargas, cobrar pagamentos e taxas”, afirmou.
“Em termos de resultados concretos para a população, para a sociedade, este tipo de operação não traz praticamente nada”, acrescentou.
— Com arquivos da Reuters e da Associated Press
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