Espera, respira, vai.

Sim, eu acho bonito quando você abre o vinho. Porque das coisas todas que você tem controle na vida e das coisas todas que você domina quando conversa comigo, seja filosofia ou comportamento humano, seja sobre como o seu cabelo é bonito e ninguém repara, tudo isso e o resto no mundo dá um tempo e pára quando você abre o vinho e me manda esperar um pouco. Deixa respirar. Ok, agora pode. A minha ansiedade da vida se cura e se resume nesse ritual bonito, tão nosso, dizendo o que eu sempre achei que nos define: Espera, respira, vai. Um salto, sempre que me vejo com você é como se eu não soubesse se terá chão depois dessa queda livre que é sentir o seu cheiro- sempre bom, em qualquer situação- de instabilidade.

Me perdoe se eu não consigo falar de outra coisa que não seja dos seus olhos que mudam de cor conforme a luz permite. Olha, eu queria te contar que gosto muito do nome Alice, mas Pedro é o filho que eu sempre sonhei, e que eu acho nobre quando você me dá esperanças sobre assuntos que eu aceitei como sinal de desistência sobre algumas das minhas incapacidades. Porém, tenho medo de você pegar suas coisas e sair voando ao ver meu sentimento tão exposto, mesmo eu realmente não achando que nos amamos a ponto de você morrer sem mim e eu não conseguir viver sem você, mas gostar e zelar por isso mesmo assim e achar tudo o que acontece conosco tão bom. Eu fiquei parada eternamente no seu beijo sincero na minha testa em modo de cuidado, na minha boca em modo de desejo e nas minhas mãos para mostrar que estamos seguros um no outro. Te dá medo saber que eu quero isso por longos anos e não sinto vontade de procurar mais nada? Em mim também, não se preocupe.

Não, eu não quero saber do passado que volta e meia surge numa conversa mais séria e machuca. Eu acredito que podemos seguir daqui pra frente do nosso jeito- tão nosso e tão único, que a moça da papelaria ficou com inveja e deve estar procurando um pouco de nós em alguém por aí- e ser feliz, uma felicidade tranquila, reservada e sem cobranças, sem medo de ser inteiro pro outro e não precisar se vestir de aparências. Mas olha, já aviso, eu não sei se consigo completar esse plano até o final. Mas olha, eu quero. Mesmo sabendo que você poderia aprender a lavar a louça com mais frequência e deixar a pia limpa, entender que só arrumar a cama não conta como ajuda na casa. Eu quero. Quero porque eu gosto quando você me faz dormir nos teus braços e não me deixa sair, me prende em segundos quentes e simples, me faz descansar. Gosto do respeito que você tem sobre mim ao me negar certas coisas e que me mostra uma relação de admiração e partilha. E ainda que essa minha mania de ficar em silêncio olhando para o nada por um tempo seja estranha, é lindo como você respeita isso e chega até admirar. Obrigada por respeitar o meu espaço, os meus momentos de introspecção e se emocionar comigo sobre orgulhos que eu nem tenho, mas gosto de vê-los contados para você. Queria dizer, só mais uma vez, que tudo bem você me cortar de norte à sul numa linha cirúrgica e fazer de mim uma pessoa mais ampla e verdadeira ao extremo. Mas olha, se for pra ficar mesmo nesse barco, me diz que eu posso soltar os ombros e responder sincera, olho no olho: Sim. Se for pra me fazer confiar e me jogar de olhos fechados como eu tenho feito, lembra de me dizer a receita básica de nós dois: Espera, respira, vai.

E eu prometo, deixarei sempre um espaço aberto para você ficar.

 

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