Esses dias aconteceu a pior tragédia que se pode acontecer na Terra. O céu estava nublado, meio chuvoso, meio não. Dentro de casa estava insuportavelmente quente embaixo das cobertas, e absurdamente frio fora delas. Era um domingo, eu estava sozinho. Nem meu cachorro latia. Nada acontecia. O Facebook virou uma cidade deserta, tipo essas arrasadas por bandidos do faroeste. As músicas estavam entediantes e as séries não acabavam com o meu mal estar.

Uma sensação horrível estava me amargando, algo de muito ruim não iria acontecer, e de bom muito menos. Era mais um dia, desses típicos dias em que nada acontece. Você corta as unhas, lava a louça, olha pro espelho e do outro lado vê o nada existente ao seu redor. A TV é como um lago sem peixes, nada de bom, nada de ruim, só a existência.

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Faz silêncio, escuta as gotas d’água caírem na calha. Elas não são o suficiente para lhe acalmar, elas são poucas, são barulhentas porém silenciosas, são mais doses de tédio. Nesse dia foi como ler esse texto, estar em coma ou mesmo ser uma planta. Só existir era o que restava. Domingos assim são perigosos. Ninguém morre, ninguém nasce, ninguém é alguém suficientemente interessante.

Foi nesse dia sem crime que surgiu o boato de que todos os heróis da Terra não aguentaram. Não tinha quem salvar, não tinha festas para ir, só lhes restava estar a sós com seus poderes. Nesse domingo, no pior domingo da história da Terra, todos os heróis morreram de tédio.

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